Entrevista com Ubiratan Adler sobre homeopatia e depressão

Ubiratan Adler é médico pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (1987), Especialista em Homeopatia pela Associação Médica Homeopática Brasileira, Mestre em Ciências (Imunologia) pela Universidade de São Paulo, Doutor em Ciências (Psicobiologia – linha de pesquisa: transtornos do humor) pela Universidade Federal de São Paulo, com Pós-doutorado no Instituto de Medicina Social, Epidemiologia e Economia da Saúde da Universidade Charité, Berlim (2009-2011). Tem experiência clínica em homeopatia/medicina integrativa, com ênfase em saúde mental, tendo atuado como médico assistente em Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) de adultos, crianças e álcool e drogas. Experiência na coordenação de estudos clínicos randomizados e controlados, segundo as Boas Práticas Clínicas. Atualmente é Professor Adjunto do Departamento de Medicina da Universidade Federal de São Carlos.

Por que você começou a estudar depressão? algum fato provocou este interesse?
Passei a interessar-me pelo problema por 3 razões: a primeira, por ter uma tendência a estudar e cuidar de pacientes acometidos por transtornos mentais, apesar de não ser psiquiatra. A segunda, pelo impacto da depressão na saúde pública, pois em 2003-4, quando começamos a estudar possibilidades de tratamento homeopático da depressão, a Organização Mundial da Saúde já projetava a depressão maior como uma das principais causas de incapacidade no mundo. A terceira razão são as opções medicamentosas relativamente limitadas para o tratamento da depressão. Os antidepressivos, mesmo os mais modernos, são muito importantes, mas têm uma ação mais evidente no tratamento dos casos mais graves, proporcionando um benefício clínico limitado aos casos moderados e leves.

Todos os casos podem ser tratados com Homeopatia?
Primeiro, sugiro um cuidado com a vulgarização do diagnóstico. Depressão tornou-se um termo popular e frequentemente se confunde insatisfação com o curso da vida, com depressão. O episódio depressivo é um transtorno sério, potencialmente grave e até fatal. Requer ajuda especializada e muitas vezes multidisciplinar, além de fortalecimento da família e da rede de apoio do paciente. Pela minha experiência, pacientes sofrendo um episódio depressivo podem sim se beneficiar de um tratamento homeopático criterioso. Entretanto, frequentemente se faz necessário um tratamento integrativo, ou seja, medicina convencional e homeopatia, sem esquecermos dos benefícios da psicoterapia, do apoio da terapia ocupacional, etc. Quando tratamos pacientes com depressão maior em um estudo clínico, as condições de controle e segurança do paciente são excepcionais, com consultas frequentes, avaliações psicológicas que acompanham o curso da doença. Não podemos incluir, por exemplo, pacientes com tentativas recentes de suicídio em estudos clínicos, mas,na vida real, infelizmente são casos que cotidianamente se apresentam na clínica psiquiátrica. Portanto, em tese, todos os pacientes podem ser tratados, mas nem sempre exclusivamente com homeopatia e não por um clínico que não tenha experiência, especialização ou suporte de um psiquiatra e de uma equipe multidisciplinar para os casos graves.

Há vantagens em tratar pacientes deprimidos com a terapêutica homeopática? Quais?
A grande vantagem é o menor risco de efeitos adversos, em relação ao tratamento convencional. Outra potencial vantagem, ainda não demonstrada, seria a possibilidade da Homeopatia colaborar na descontinuação da medicação antidepressiva, pois hoje começar um tratamento medicamentoso para depressão é relativamente fácil. Descontinuá-lo não.

É dito que o tratamento homeopático demora para surtir efeito. No caso da depressão é assim também?
Depressão é uma doença complexa, como complexa é a vida. Mágoas, rancores, insucessos, frustrações, decepções, etc, estão na pauta daqueles que se propõe a enfrentá-la, seja qual for o lado a mesa que ocupem. Antidepressivos ou Homeopatia não fazem mágica. Entretanto, temos tido relativo sucesso em estudos de 6 ou 8 semanas de duração, sugerindo que o medicamento homeopático adequado pode ser benéfico em um tempo relativamente curto.

Quais as conclusões que você tira da eficácia da homeopatia para tratar depressão? você pode fazer um resumo dos seus resultados?
Os poucos estudos que conseguiram ser concluídos indicam que medicamentos homeopáticos individualizados podem ser tão efetivos quanto alguns antidepressivos. O resumo vai nessa direção: a Homeopatia talvez possa tornar-se um recurso a mais no tratamento da depressão.

Há planos para o futuro nesta área?
Recentemente, um estudo realizado na França, por Lamiae Grimaldi-Bensouda e colaboradores, mostrou o benefício do tratamento homeopático para transtornos ansiosos e depressivos na atenção primária. Este é um campo que me interessa, pois se pudermos empoderar os clínicos da atenção primária, talvez possamos melhorar a resolutividade do tratamento antidepressivo e ajudar a desafogar a atenção especializada.