Homeopatia e Plantas Medicinais

Entre os não-especialistas, homeopatia tem sido sempre confundida com fitoterapia, o que pode ser parcialmente justificado, uma vez que a maior parte dos medicamentos homeopáticos tem origem a partir de vegetais. Formas particulares de fitoterapia incrementam desentendimentos. Entretanto existem diferenças fundamentais, assim também como semelhanças. Apresentá-las é o objetivo deste texto, o que será feito através de uma análise das origens históricas, técnicas de preparo e propostas de utilização, de maneira separada para fitoterapia, aromaterapia, essências florais e homeopatia.

FITOTERAPIA

1 – HISTÓRICO:

Surgiu com o início dos tempos, já que registra-se seu uso desde o homem primitivo, que observava o comportamento dos animais, quando doentes; experimentava, intuitivamente, utilizar plantas para seu tratamento, assim como para sua alimentação. Nomes importantes do passado, descreveram inúmeras plantas e auxiliaram a estabelecer o uso das primeiras plantas com finalidades terapêuticas: Dioscórides, Paracelsus e tantos outros das civilizações mesopotâmica, egípcia, grega, romana e árabe, para citar alguns. O papiro Ebers (que recebeu o nome de seu descobridor alemão, em 1873) trouxe informações de 2000 anos antes de Cristo (8).

2 – MÉTODO DE PREPARO:

A fitoterapia preconiza o uso de plantas frescas ou secas. As primeiras podem ser ingeridas “in natura”, assim como espremidas para aproveitamento de seu suco. Podem ser preparadas como infusos ou decoctos. Já as plantas secas, podem ser melhor conservadas e guardadas para uso posterior. Existem métodos de extração mais elaborados, como os que produzem tinturas, extratos secos, hidro-alcoólicos ou glicólicos, Através de moagem, obtém-se pós que podem ser encapsulados ou convertidos em formas farmacêuticas como comprimidos. Esta seqüência foi decorrente do desenvolvimento tecnológico da humanidade.

Vegetais são comumente apontados por seus princípios ativos mais importantes, porém pode-se encontrar vários grupamentos químicos dentro de um mesmo vegetal. Os principais grupos são alcalóides, mucilagens, flavonóides, taninos, saponinas e outros (3).

3 – USO:

O uso de determinado vegetal é determinado por sua composição química, que se relaciona com uma ação contrária aos sintomas apresentados. Este conceito permitiu o isolamento de diversos princípios ativos, sendo, em muitos casos o berço da indústria farmacêutica (3,8).

AROMATERAPIA

1 – HISTÓRICO:

Óleos essenciais também são utilizados desde a antiguidade. São extratos odoríficos já utilizados pelos egípcios, que embalsamavam seus mortos com ajuda do poder conservante de óleos como incenso, mirra, cipreste, cedro, junípero e tantos outros. Judeus, gregos e árabes também conheceram as propriedades terapêuticas dos aromas (6,7,9).

2 – EXTRAÇÃO:

A aromaterapia fundamenta sua ação nos óleos essenciais, e apenas vegetais que contém estes óleos são usados. Quimicamente, são classificados como terpenos. Os métodos de extração clássicos dos óleos essenciais são a destilação a vapor, expressão a frio, expressão através do uso de gordura (enfleurage) e extração com solventes (9).

3 – USO

Óleos essenciais possuem efeitos químicos muito definidos, como antisséptica, antibiótica, estimulante, calmante, digestiva e outras que dependem da estrutura e da ação química de seus constituintes. Outro uso é sua ação mais sutil no nível da informação semelhante à ação dos medicamentos homeopáticos e antroposóficos. A terapia apoia-se também sobre a mente e sobre as lembranças olfativas que cada indivíduo retém (7,9).

Habitualmente são usados por via externa, ou olfação. O uso interno requer grande experiência, já que os óleos essenciais podem apresentar toxicidade(9).

ESSÊNCIAS FLORAIS

1 – HISTÓRICO:

Dr. Edward Bach, de maneira intuitiva, estabeleceu a terapia floral, a partir de flores de plantas inglesas silvestres, na década de 30. A partir do final dos anos 70, outros grupos passaram a repetir seu método com as flores coletadas na área em que viviam(4,5) .

2 – EXTRAÇÃO:

Flores são colocadas ao sol, em contato com água de fonte. Após algumas horas, as flores são separadas e o líquido é adicionado de “brandy” ou conhaque, em partes iguais, para conservação. Este é o método solar. Outra possibilidade é utilizar o método da fervura, onde a exposição ao sol é substituída pela fervura. São utilizadas sempre flores, de plantas silvestres. A diluição inicial é de 1:1 (água de flores:brandy), seguida de outra igual a 2 gotas para 30mL de brandy (para preparo do frasco estoque ou “stock bottle”) e ainda 2 gotas para 30mL para o frasco que será administrado ao paciente (4,5).

3 – USO:

Essências florais são utilizadas para alívio de sintomas emocionais, inclusive aqueles que estejam desencadeando sintomas físicos. Habitualmente o paciente ingere 4 gotas da essência, 4 vezes ao dia (4,5).

HOMEOPATIA

1 – HISTÓRICO:

Criada pelo médico alemão Samuel Hahnemann, há 200 anos, a homeopatia fundamenta-se sobre o “princípio da semelhança”, isto é, a substância capaz de provocar sintomas em um indivíduo saudável é capaz de tratar um indivíduo que apresente sintomas semelhantes. Hahnemann foi o primeiro a formatar este método de curar, propondo também a dinamização dos medicamentos (2).

2 – EXTRAÇÃO:

A partir de determinadas partes de vegetais (assim como, em menor parte, de animais e minerais), são preparadas tinturas com 10% da planta, em solução hidroalcoólica. A estas tinturas dá-se o nome de tinturas-mãe, pois serão utilizadas para produzir “filhotes”, isto é, as dinamizações, que são diluídas e agitadas. A proporção de diluição pode ser de 1:100, 1:10 e ainda de cerca de 1:50.000. A agitação pode ocorrer manualmente, na forma de 100 batidas contra anteparo, ou de forma mecânica. Estas dinamizações são administradas aos pacientes sobre um veículo líquido ou sólido, os glóbulos ou comprimidos (1).

3 – USO:

O tratamento homeopático ideal visa o doente e não a doença. Para tanto, faz um levantamento de todos os sintomas do paciente, buscando uma substância que atenda a todos eles. Se a escolha for correta, apenas um medicamento deverá retomar a saúde do paciente.

PONTOS SEMELHANTES E DIFERENÇAS ENTRE AS DIVERSAS TERAPÊUTICAS DE ORIGEM VEGETAL

Um mesmo vegetal pode dar origem a medicamentos fitoterápico, aromaterápico, floral ou homeopático. Para ser aromaterápico, deverá ser preparado com o óleo essencial; para ser essência floral, a partir da flor, e segundo determinada técnica, específica. Isto pode explicar efeitos diferentes, por estarmos extraindo diferentes substâncias do vegetal. Porém flores de Arnica montana, extraída com solução hidroalcoólica constituem um uso normalmente chamado de fitoterápico. Já, se forem diluídas e agitadas, será denominado de uso homeopático. Se a extração das flores se der através de água e exposição ao sol, teremos uma essência floral. Para a camomila os exemplos são ainda mais amplos: podemos ingerir o decocto como alimento, ou com fins terapêuticos. Sua tintura pode ser usada como fitoterápico, assim como sua essência floral atuará sobre sentimentos específicos.

Quando um composto de origem vegetal vai ser administrado a um paciente, não há como condicionar o tipo de ação ele terá no organismo. A mesma camomila atua como um bálsamo na queimadura solar, acalma um paciente impaciente e choroso ou alivia a irritação da dentição.

Outro ponto a ser ressaltado é que o uso externo, aparentemente fitoterápico da Arnica montana, por exemplo, é, na verdade, homeopático. Considerando que, dependendo da dose e da sensibilidade individual, a arnica possui efeito tóxico que é causar sangramentos em mucosas, quando ela está tratando de hematomas, sua ação é homeopática, isto é, pela lei da semelhança, e não fitoterápica, que se explica por ação contrária. Seria fitoterápica a ação de um vegetal rico em taninos, por exemplo, que, através da constrição, poderia diminuir sangramentos.
Existem algumas importantes diferenças e semelhanças, especialmente em relação à extração e ao uso das diferentes preparações de origem vegetal. As diferentes formas de extração e de uso que são dados a uma planta, ampliam a possibilidade de seu uso terapêutico.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • FONTES, Olney Leite e colaboradores. Farmácia homeopática. Teoria e prática. São Paulo: Manole; 2001.
  • HAHNEMANN, Samuel. Organon der Heilkunst – Organon da Arte de Curar, 6ª ed. Trad. Edméa Marturano Villela e Izao Carneiro Soares. Ribeirão Preto: IHFL e Museu de Homeopatia Abrahão Brickmann; 1995.
  • SIMÕES, Claudia Maria Oliveira et al. Farmacognosia. Da planta ao medicamento. Florianópolis: Edit. Univ. Federal do RS, 1a. ed., 1999.
  • BARNARD, Julian. Um guia para os remédios florais do Dr. Bach. São Paulo: Pensamento, 1979.
  • BACH, Edward. Os remédios florais do Dr. Bach. São Paulo: Pensamento; 1997.
  • TISSERAND, Robert. A arte da aromaterapia. São Paulo: Roca; 1993.
  • LAWLESS, Julia. The illustrated Encyclopedia of Essential Oils. Massachussets: Element Books Ltd; 1996.
  • TESKE, Magrid et al. Herbarium – Compêndio de Fitoterapia. Curitiba: Herbario, 3ª ed. revisada.; 1997.
  • LAVABRE, Marcel. Aromaterapia. Cura pelos óleos essenciais. Rio de Janeiro: Nova Era; 1993.