Monotonia, Homeopatia, Agricultura, Experiência/Idade

Amarilys de Toledo Cesar, farmacêutica homeopata, doutora em Saúde Pública USP, diretora HNCristiano laboratório de tinturas-mãe e matrizes, e farmácias homeopáticas.

Há anos atrás, logo após formar-me, desejei que minha vida não fosse monótona. Devo ter desejado muito fortemente, pois mudanças e novidades parecem fazer parte da minha realidade desde então.

Por exemplo, nestes últimos 5 dias, no início de maio, tive o privilégio de fazer uma viagem em um pequeno veleiro do meu filho (e com ele também), entre Cananeia e Ilha do Mel. Desafio e força da Natureza estiveram muito presentes nestes dias, com um sol agradável, um pouco de chuva, a chegada da noite que fez com que encalhássemos no mangue com a maré vazia, não restando outra opção senão dormir e esperar a maré subir. Durante 5 dias navegamos entre Parques Nacional e Estadual, Reservas, áreas de conservação. Poucos habitantes, poucas casas exceto em pequenas comunidades ribeirinhas; muita mata, muita água, manguezal, aves, peixes, golfinhos. Um local relativamente próximo a São Paulo e Curitiba, que necessita de proteção para manter-se íntegro para as futuras gerações.

No final de semana anterior, havia ido para Maringá, também estado do Paraná, em uma imersão no mundo da agronomia, que aprendi a apreciar com o mesmo filho, agrônomo. Um mundo dos agrônomos, porém antes ainda dos agricultores, dos que plantam, manejam a terra e colhem os alimentos de uma maneira que nós, “da cidade”, não imaginamos. Claro que é também o mundo das hortas caseiras, dos canteiros das plantas medicinais. E hoje, também das culturas, geralmente grandes monoculturas, que crescem através de rígidos protocolos e métodos praticamente industriais. O mundo do agronegócio! Fui ensinar, mas aprendi mais do que tudo. Apresentada como uma farmacêutica homeopata que contribui com o uso da homeopatia em plantações, conversei com eles sobre os desafios das patogenesias, falei sobre quais seriam os sintomas de plantas diversas, desde uma alface, até um cultivo de soja. Contei da amoreira que cresce em frente de casa, e de como a tintura-mãe produzida com suas folhas é muito mais apreciada do que a que fazemos com folhas compradas. E da curiosidade de que aquela árvore floresce, porém não frutifica. Radko Tichawski, um tcheco autodidata em agrohomeopatia e autor de livros sobre o tema, indicou que eu tentasse regar a árvore com Sepia para que as frutas se formassem. Imaginou uma situação baseada nas dificuldades de Sepia em humanos, com seus filhos. Não funcionou, seja pelo método e tempo de aplicação, seja porque não há relação alguma entre sintomas de humanos e de amoreiras. Interessante foi que, ao contar, percebi que a tintura de Morus é procurada para sintomas de menopausa, quando novos filhos não são mais possíveis. Será que minha amoreira é tão apreciada por mulheres no climatério pois ela também tem um comportamento semelhante (não gera filhos, ou seja, frutos), diferente de outras do bairro? Bem se diz que é ensinando que mais aprendemos!

Estas turmas do curso de extensão em homeopatia da Universidade Estadual de Maringá despertam muitas descobertas em mim. Há saberes e sabedoria a serem descobertas e respeitadas. Os alunos são heterogêneos em suas formações e experiências escolares, universitárias e acadêmicas, porém a atenção, a compreensão, o interesse é homogêneo, é um só, e muito grande. Muitas vezes bem maior do que quando falo para colegas farmacêuticos. A formação universitária, ainda que contribua com saberes científicos, pode até atrapalhar em parte. A simplicidade de alguns parece aumentar sua sensibilidade em lidar com a terra Gaia, como um organismo vivo; e também com uma lei natural, lei da natureza, que é a homeopatia. E que pode ser aplicada nas plantas, na terra e no ambiente, ainda que saibamos muito pouco como fazer isto com sucesso. Afinal, não foi o que Hahnemann fez ao longo da sua vida? Descobriu como aplicar a lei da semelhança para tratar de humanos? Hoje podemos continuar seu trabalho buscando como tratar, com homeopatia, com a semelhança, animais, vegetais, a terra, o ar e a água, o ambiente.

Escuto histórias de agricultores que já lidam muito bem com homeopatia em plantações, que assessoram grandes fazendas no norte do país, histórias de “freirinhas” que ajudam a tratar de pessoas intoxicadas por “venenos”, a tratar os que estão doentes, que ensinam a todos a usar a homeopatia. Como harmonizar estes fatos que acontecem já há algum tempo no interior do país, com as regras profissionais, especialmente presentes nas áreas mais urbanas, nas capitais? Eu mesma já fiz uma solução dinamizada improvisada em um passeio escolar com crianças pequenas, quando lagartas começaram a cair de um caramanchão e a subir pelas pernas de todos, levando a gritos e choros. Com copos de papel, colheres plásticas e água potável, cheguei rapidamente a uma solução que aplacava as queimações quando aplicada sobre a pele. O que dizer de quem atua em regiões onde não há homeopatia formal, farmácias, farmacêuticos, ou agrônomos e veterinários com conhecimento de homeopatia? Pessoas formadas em cursos como este de extensão da universidade de Maringá, ou em associações ou organizações como EMBRAPA, EMATER e outras, estão pondo em prática seus conhecimentos sobre homeopatia, e ampliando seu uso, disponibilizando para outros interessados.

Será que o profissional do medicamento para a vegetais e para a agricultura é o farmacêutico, assim como para humanos? Será que o termo medicamento aplica-se a tratar vegetais com homeopatia? Passei 15 horas falando sobre o medicamento homeopático, contextualizando a lei dos semelhantes, transitando pela semelhança máxima, isto é, sobre a igualdade, os isoterápicos, os organoterápicos (pois agrônomos e agricultores também cuidam de animais, nem sempre com acompanhamento próximo de veterinários). Como não há tanta delimitação nesta nova área, também vemos veterinários, farmacêuticos e médicos opinando sobre o uso da homeopatia em plantas. Nas amplidões das terras deste país há sentido em estabelecermos “cercas” corporativas? Ou muito mais sentido de expandirmos conhecimentos, ainda incipientes, porém essenciais para um futuro possível que vislumbramos todos os dias, com destruição da natureza, implícitas com a ampliação das grandes monoculturas? Como proteger o homem e o ambiente de tantas substâncias ardilosamente chamadas de “melhoradores” ou “defensivos” agrícolas? A isoterapia não se aplicaria aí também, promovendo uma desintoxicação?

E que profissional deve fazer os remédios para plantas? Ou seriam medicamentos para plantas? Como lidar com potências, escalas, métodos, posologia, e os volumes necessários? Serão mesmo volumes gigantescos para uma plantação, ou a dinamização ocorreria também na natureza, através de diluições e agitações em águas naturais, assim como a propagação destas soluções com propriedades tão ímpares, através das águas do solo? Estaríamos correndo o risco de lesar o ambiente também com dinamizações? Será que o risco seria maior do que com o extenso uso dos agrotóxicos? Os inimigos da homeopatia, quando param de dizer que suas soluções dinamizadas são só “aguinhas”, vão para outro extremo para falar sobre possível riscos que elas poderiam trazer, e como devem ser descartadas as soluções que usamos.

Já se sabe que a homeopatia ajudas as plantas a se defenderem de ataques, e pode substituir os praguicidas. Mas como manter uma baixa concentração de outras plantas, indesejadas, habitualmente chamadas de “daninhas”? Como substituir os herbicidas, o glifosato? Como encontrar soluções homeopáticas que fortaleçam os vegetais que queremos, sem ativar também outros presentes nas mesmas áreas? E como fazer isto em grande escala, para evitar o uso de herbicidas, ainda possibilitando a necessária colheita mecânica no caso de grandes áreas?

Como estabelecer regras para as prescrições, que possam ser atendidas em farmácias com manipulação homeopática? Hoje, pela legislação vigente, agrônomos não são prescritores legalmente habilitados, nem mesmo são profissionais da área da saúde. Muitas farmácias não os atende. O que dizer então dos agricultores? Conseguiremos perceber que a homeopatia pode ser ampliada em seu uso, para benefício de todos nós?

Durante os 5 dias viajando pelo Cardoso, Lagamar, Superagui, lí um livro 1 que falava sobre a Parúsia, o 2o. advento, o final dos tempos na Terra. Termina com a continuidade, através de pequenos grupos que criam comunidades relativamente autosustentáveis, baseadas na colaboração, na união, no amor. A homeopatia é a medicina do futuro, por sua baixa toxicidade e eficácia que ainda precisamos compreender e atingir. Numa situação de extrema dificuldade, como a relatada pelo livro, seria a medicina deste futuro, pois requer quantidades mínimas de substâncias, criando o milagre da multiplicação dos medicamentos. Hoje, quando direcionamos ações orientadas por nomes comerciais e patentes, a homeopatia encontra tantos entraves para seu desenvolvimento. Porém não é a medicina ideal para um futuro difícil? Aliás, o livro cita esta terapêutica, ensinada naquelas comunidades por alguns para os outros, como um dos meios de cura.

Um amigo homeopata, agrônomo de formação, fez o seguinte comentário, mostrando que esta compreensão já está presente entre nós: “Onde quer que tenhamos vindo de nossa formação original, encontramos na homeopatia algo que transcende as formações. Uma ciência plural entre tantas profissões que se integram. É impossível cuidar da cria sem cuidar da mãe e do pai. Cuidar dele é impossível, sem cuidar da terra e da casa. Cuidar do homem é impossível, sem cuidar de animais e plantas. O profissional deve ser global, transitando em todas essas esferas”.

No próximo final de semana começou novo curso de Ton Jansen, homeopata holandês que apresenta protocolos que, além da homeopatia clássica, propõem o uso de isoterápicos com a finalidade de nos desintoxicar de tantos medicamentos, agrotóxicos, metais pesados, vacinas, substâncias presentes em alimentos industrializados, em cosméticos, em domissanitários, enfim substâncias que hoje são parte “normal” de nossas vidas. Jansen acena com uma ajuda à nossa civilização, usando o que Hahnemann nos legou, para um novo equilíbrio possível.

Nas semanas anteriores falei para colegas em curso de especialização da ABFH-Racine, sobre a história de Hahnemann e como ele foi nos legando a “receita” de como utilizar a lei dos semelhantes para curar com a homeopatia. De como Hahnemann, aos 70, 80 anos de idade tinha a mente fervilhante e produtiva. E como os colegas do curso, alunos de 30, 40 anos, tinham a possibilidade de trabalhar ainda durante muitos anos, e oferecer tanto desenvolvimento e avanços para a homeopatia de Hahnemann, para benefício de tantos pacientes. Humanos, animais, vegetais, e para o ambiente.

Pude perceber também que a vida, aos 63 anos, pode oferecer a experiência já vivida, para observarmos diversos aspectos, possibilidades e privilégios. E que nos fornece mais ingredientes para contribuirmos e honrarmos o trabalho de Hahnemann.

Olhar para nossas dificuldades, enfrentar nossos problemas, superar medos e preconceitos. O tempo presente nos exige tudo isso. Esse é o legado que podemos deixar para as gerações futuras. É sim possível ajudar a construir um mundo mais harmônico, mais simples e mais completo. Monotonia? Jamais!

Gracias a la vida, que me ha dado tanto!

Violeta Parra

1. Os fantoches de Deus, de Morris West.