Organoterápicos – Medicamentos refeitos

Acompanhe como foram preparados os Organoterápicos de Carneiro que a Dra. Amarilys e sua equipe desenvolveram para nós.

Organoterápicos

Medicamentos refeitos a partir do abate de um carneiro.
Depoimento da experiência.

1. Histórico

Como em diversas outras farmácias homeopáticas, também temos na nossa, diversas matrizes de organoterápicos feitas com órgãos saudáveis. Talvez um órgão doente ou desequilibrado possa receber uma informação de como um órgão saudável deve ser ou funcionar. Assim, órgãos saudáveis são dinamizados, isto é, diluídos e agitados, e preparados segundo a farmacotécnica homeopática. Não foram experimentados, não passarem por patogenesia, e portanto não são verdadeiros medicamentos homeopáticos, do ponto de vista clássico. Por serem preparados como medicamentos homeopáticos, são geralmente prescritos por clínicos homeopatas.

Trabalhando em farmácia homeopática há 30 anos, a informação que tive desde meu início nesta área foi a de que as matrizes disponíveis no pais vieram da França, porém havia pouca informação. Assim, quando tive a oportunidade de comprar dinamizações em viagens, foi o que fiz, de laboratórios que nem existem mais. Quando surgiu a encefalopatia espongiforme bovina (também chamada de mal de Creutzfeldt-Jakob ou “doença da vaca louca”), a legislação europeia, na tentativa que esta doença não se espalhasse pelo continente, vetou medicamentos feitos a partir de animais. Por isto os organoterápicos não são hoje muito divulgados na literatura.

Como sou uma acumuladora de informações que um dia poderão ser úteis, lembro-me de que uma vez soube que uma colega do nordeste e um médico, haviam preparado diversos organoterápicos, a partir do sacrifício de uma vaca.

Ao longo dos anos, tanto colegas farmacêuticos, quantos prescritores, por diversos motivos nos perguntavam qual era a origem dos organoterápicos que utilizávamos em nossas farmácias ou fornecíamos como matrizes. Como proprietários também de um laboratório de insumos farmacêuticos homeopáticos, produzimos e distribuímos matrizes, que são as matérias-primas para que diversas farmácias do pais possam manipular suas prescrições homeopáticas. Pacientes de origem judaica, por motivos religiosos, não queriam medicamentos que tivessem origem suína. Outros pensavam que os organoterápicos deveriam ter origem humana para garantir uma boa ação (sempre me pergunto quem será que está disposto a doar seus órgãos saudáveis para dinamizar?). E nós não tínhamos respostas para todas as perguntas. As matrizes do nosso estoque tinham origem francesa, mas não havia a quem perguntar, ou literatura a consultar, para obtermos mais informações como de que animais os órgãos haviam sido retirados? Quando? por quem? ou como? Assim, a vontade de refazer os organoterápicos existia a tempos. Continuávamos nosso trabalho com as dinamizações que tínhamos, mas a vontade de produzir Organoterápicos com melhor qualidade foi aumentando. Em certo momento, uma médica homeopata de São Paulo buscava Pulmão em baixa potência decimal, o que não tínhamos. Outra homeopata de Minas Gerais, a dra. Isabel Horta, começou a usar medicamentos em cinquenta milesimal, e nos questionava sobre a possibilidade de fazer também Organoterápicos nesta escala. Mas para fazer uma cinquenta milesimal, é necessário ter a trituração da substância. Como não tínhamos, não havia como fazer a LM de Cérebro, por exemplo. A não ser que conseguíssemos o material para ser triturado.

2. O que são Medicamentos Organoterápicos?

Organoterápicos não são medicamentos homeopáticos clássicos ou tradicionais. Há muitas dúvidas em relação ao seu uso, à sua origem, às suas propriedades terapêuticas. Temos escutado perguntas sobre por que feito a partir de animal? A resposta é relativamente simples: porque não haveria doador humano de órgãos saudáveis. Mesmo no caso de um acidente, seria muito mais complicado do ponto de vista de autoridades sanitárias, assim como de comprovação do estado de saudável do órgão e do organismo como um todo, de questões éticas e morais.

Outra pergunta que tínhamos que responder é por que usamos um carneiro, não outro animal mais parecido com o homem, como um macaco, ou o porco, que tivesse inclusive órgãos mais semelhantes e maiores? Não, não foi para manter a tradição bíblica de “imolar o carneiro”. Procurando na literatura francesa, encontramos que os organoterápicos são feitos principalmente a partir de suínos ou de carneiro. Mas encontramos um abatedouro de carneiros, e não de suínos. Além disto, prescritores e pacientes de origem judaica, preferem prescrever e usar medicamentos vindos de carneiros, a de porcos. Segue a referência francesa mencionada, o livro La Pratique de l’Homéopathie et des médecines associées à l’officine, 2. édition, Maloine, Paris, páginas 5 a 8, do farmacêutico francês Richard Pinto, que já nos visitou em final de 1989.

“Organoterapia é uma terapêutica que utiliza diluições de órgãos animais (carneiro e porco na maior parte do tempo), cuidadosamente removidos, cercado de todas as regras de higiene e cuja prescrição é complementar a um tratamento homeopático, ainda que raramente, e temporariamente, pode ser a única prescrição. Este método visa tratar um órgão ou tecido doente pela administração de órgãos ou de tecidos homólogos (nosso acréscimo – sadios e) dinamizados”.

Alguns homeopatas nos pedem patogenesia destes medicamentos, ou até perguntam por que usamos animal saudável, e não enfermo. O motivo é que não se trata de fazer patogenesia de um Pulmão dinamizado. E sim “passar uma mensagem” para que um pulmão enfermo ou desequilibrado passe a funcionar como um pulmão saudável. A terapêutica que usa órgãos doentes é feita com nosódios. Por exemplo isto acontece no caso do Psorinum, do Tuberculinum, medicamentos que possuem experimentação, e são usados de acordo com a lei da semelhança. Ou então quando preparamos medicamentos a partir de uma secreção purulenta coletada em uma amígdala, para tratar uma amigdalite. Neste caso o raciocínio é que na secreção purulenta encontra-se o agente etiológico da amigdalite. A lei da semelhança nos diz que podemos tratar um indivíduo doente utilizando a substância (no caso, bactérias) que provocou os sintomas (no caso, a doença). Como as bactérias presentes na amígdala do enfermo são, ao menos em parte, o agente etiológico que levou aos sintomas, a ideia de preparar um medicamento dinamizado a partir destas bactérias, presentes na secreção ao enfermo, deve levar à melhora ou cura da amigdalite. Chamamos a estes medicamentos de nosódios ou isoterápicos (pois foi feito a partir do igual = iso, e não do semelhante, homeo). Se forem preparados para serem usados apenas no indivíduo do qual o material foi coletado, serão chamados de auto-nosódios ou auto-isoterápicos. Já imagina-se que os Organoterápicos seguem outra lógica, a de “ensinar” um comportamento normal, de um órgão saudável.

Assim temos resposta sobre o motivo de termos usado um carneiro para obtenção dos órgãos, e também para mostrar porque não é feita uma experimentação antes de usar organoterápicos, pois trata-se de terapêutica que, ainda que use medicamentos dinamizados, não busca a lei da semelhança.

3. Origem do material utilizado para preparação das Dinamizações

No passado já havíamos feito um belo trabalho com os medicamentos da 6a edição do Organon de Hahnemann. Lembro-me ainda do dia em que, trabalhando na farmácia, fomos visitados por três médicos homeopatas que nos diziam que haviam estudado muito este último livro de Hahnemann, porém que seus pacientes não respondiam às suas prescrições da mesma maneira como o Mestre deixou registrado sobre a evolução de seus casos. Ao invés disto, os pacientes brasileiros continuavam respondendo com agravações importantes, só amenizadas com contínuas diluições que chegavam a mais de 10 copos, o que dava um trabalho imenso. Imagine no caso de uma família de pai, mãe e dois ou três filhos, fazendo diluições diariamente, em casa, antes de tomar o medicamento. E depois tendo que lavar os inúmeros copos, que deveriam ser inativados pelo calor. Para facilitar a vida dos pacientes passamos a entregar aos pacientes um frasco com a solução já diluída, e estabilizada em álcool. Porém os pacientes continuavam agravando, e não conseguíamos reproduzir os resultados que Hahnemann havia prometido. Através do desenvolvimento de glóbulos adequados, busca das substâncias para triturar, padronização detalhada de todos os passos, chegamos a medicamentos com ótima rastreabilidade, e os chamamos de “LM padronizadas”. Será que conseguiríamos repetir um trabalho semelhante com organoterápicos?

Começamos a pensar que animal deveríamos usar, e a buscar quem poderia nos ajudar. Conversamos com amigos veterinários, até que chegamos ao Roberto Mangieri Junior. Veterinário, homeopata, mestre e doutor com temas de homeopatia, e também farmacêutico. Roberto prontificou-se a conversar com um proprietário de abatedouro de carneiros, em cidade próxima a São Paulo, totalmente legalizado. Aceita a proposta, bem cedo, com botas plásticas novas, muitos frascos e tampas, rótulos, geladeira plástica térmica, fui encontrar Roberto, que veio com seu enorme livro de Anatomia Animal e ferramentas de corte como bisturis, facas e facões.

Ao chegar ao abatedouro, observei que ele era pequeno e limpíssimo. Seu proprietário é um agrônomo jovem, formado pela ESALQ (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz). Soubemos depois que era colega de turma de faculdade de meu filho mais velho. Mundo pequeno! Só abatem carneiros. O grupo de animais daquela manhã havia sido criado na fazenda do grupo católico Canção Nova. No local já havia um técnico veterinário do MAPA, que já havia examinado o primeiro animal, que adquirimos e a nós foi destinado. Logo depois chegou a veterinária, uma senhora com problemas de joelho. Conversando, ela se interessou pela possibilidade terapêutica dos órgãos que iríamos coletar.

O abatedouro fica no meio do campo, no alto de um monte, de onde avistamos os outros animais ao longe. Só carneiros! Eram várias salas, uma sequência de abate, separação da cabeça, das vísceras, liberação da carcaça. Muita água corrente para manter a limpeza exemplar! Nada de cheiros desagradáveis, ou pedaços de animais.

Depois da paramentação e das orientações a serem seguidas para podermos entrar na área de abate sem contaminar a carne, fomos orientados a trabalhar em uma sala, onde logo recebemos a carcaça do primeiro animal abatido, com registro de lote e de aprovação do técnico veterinário. Eu já havia enviado ao Roberto Mangieri Júnior uma relação com diversos órgãos que buscávamos coletar. Começamos o trabalho. Ele ia identificando, tirando dúvidas no livro de Anatomia, quando necessário, e coletando partes que eu ia colocando em frascos e identificando.

Havíamos decidido que trituraríamos todos eles, durante três horas cada um. Como não conseguiríamos fazer isto com rapidez, como manter as partes coletadas sem alteração? Resolvemos que faríamos a coleta em frascos com solução de etanol a 70%, altamente conservante, e depois faríamos a trituração completa para dinamizar em escala centesimal e cinquenta milesimal. Decidimos que não nos preocuparíamos em pesar as partes naquele momento, e sim coletaríamos todo o material que fosse possível. Foi uma decisão acertada, pois a trituração nos tomou muitas e muitas horas de trabalho, e seria impossível fazer diferente.

Primeiro recebemos o corpo do animal sem cabeça, nem vísceras. Alguns órgãos eram muito pequenos, outros maiores. Às vezes foram colocados até em dois frascos. Foi toda uma manhã trabalhando em baixa temperatura, a 5oC. Quando acabamos, fomos para uma outra sala onde encontramos suas vísceras. E ao final, recebemos sua cabeça. Alguns órgãos foram perdidos durante a divisão das três partes, como a Tireoide e os Testículos. Também não pudemos coletar os órgãos femininos, já que naquele local só abatem animais machos. A cabeça também trouxe dificuldades inesperadas: ela é pequena, e a região do cérebro em especial. Tínhamos que trabalhar rapidamente, pois mesmo em baixa temperatura, o material cerebral se alterava. Tínhamos que equilibrar nossa falta de experiência em dissecar cérebros de carneiro, com nosso entusiasmo e necessidade de aproveitar ao máximo, com segurança na identificação. Outra questão é que carneiros são ruminantes, e possuem o aparelho digestório diferente dos mamíferos. Era necessário considerar uma certa adaptação. Foi ótimo trabalhar com o Roberto, que nos passava uma grande segurança. Parte da lista dos órgãos havia sido passada pela dra. Isabel Hortae outra tinha como objetivo substituir órgãos que já tínhamos em nossos estoques. Mesmo assim, continuamos com uma lista crescente, com os órgãos que faltam, inclusive os femininos. Pensamos em alterar nossa técnica da próxima vez, conservando melhor o cérebro, para possibilitar a coleta de órgãos e tecidos mais delicados.

4. A preparação das matrizes

Ao terminar a coleta, levamos todos os frascos ao laboratório, em caixa plástica termo isolante para manter temperatura baixa. Decidimos que devíamos considerar a conservação na solução alcoólica, já que precisaríamos de muito tempo para triturar todo o material.

No laboratório começou uma nova fase, que envolveu um número maior de colegas na equipe: a trituração. Para evitar problemas do tipo LER (lesão por esforço repetitivo), determinamos que cada um só devia fazer uma hora de trituração por dia. Para este trabalho resolvemos ampliar para no máximo duas horas de trituração ao dia. Mas eram 70 órgãos. Triturando 3 horas cada um, precisávamos de 210 horas, o que representava quase um ano de trabalho por pessoa, triturando só uma hora ao dia. Logo, precisávamos de mais pessoas mesmo. Quem quer participar? Para este momento, formamos uma equipe básica de quatro farmacêuticas (Virgínia Tereza Macegal, Paula Azevedo Sollero e Sylvia Regina Oguchi Almeida, além de mim mesma), auxiliadas por mais algumas que vinham esporadicamente das farmácias (Estrela Norah Fernandez Bachinni e Bruna Ruas da Costa). Participaram também alguns técnicos, sempre acompanhados pelas farmacêuticas. Desta maneira conseguimos terminar o trabalho de 210 horas de trituração em três meses. Ótimo que o material estivesse em solução conservante, pois não haveria outra possibilidade de aproveitá-lo. Fizemos uma comemoração ao final das triturações! Para manter a mesma padronização hahnemanniana, decidimos que faríamos a trituração completa das centesimais. Não usaríamos o processo de preparo de tintura mãe, para em seguida dinamizar o material. As terceiras triturações foram aproveitadas para fazer os Organoterápicos tanto na cinquenta milesimais como também na escala centesimal. Já as dinamizações na escala decimal, foram feitas por maceração porque seriam 630 horas de trituração. Sempre que havia material sobrando depois da retirada do necessário para a trituração centesimal, reduzíamos então este tecido a uma “papa”, e fazíamos uma tintura por maceração, em proporção decimal. Por este motivo fizemos decimais apenas de parte dos Organoterápicos. Já temos dinamizações centesimais e cinquenta milesimais de todos eles, todas feitas por trituração completa de 3 horas. Cuidamos de ter material suficiente para fazer o Pulmão na decimal para o paciente necessitado, que era também médico homeopata.

Uma vez triturados todos os órgãos, começamos a fazer as dinamizações centesimais e cinquenta milesimais, que foram disponibilizadas a partir da 5CH e da 2LM. Para os órgãos dos quais dispúnhamos de maior quantidade, após o período de maceração, fizemos as potências decimais, disponibilizadas a partir da 5DH.

6. Organoterápicos disponíveis

A lista completa de todos os 70 órgãos que foram coletados e dinamizados é a seguinte:

SISTEMA MATRIZ (CARNEIRO, HN) CONTEÚDO
endócrino Timo Timo total
endócrino Hipófise Total Hipófise total
nervoso Cerebelo Cerebelo
nervoso Diencéfalo Diencéfalo contém: Tálamo, Hipotálamo, Ventrículo cerebral e outras partes
nervoso Encéfalo Occipital direito Encéfalo Occipital direito
nervoso Encéfalo Occipital esquerdo Encéfalo Occipital esquerdo
nervoso Encéfalo Total Composta de: Encéfalo Occipital direito + Encéfalo Occipital esquerdo
nervoso Lobo Frontal Lobo frontal (menos desenvolvido em carneiro do que em humanos)
nervoso Lobo Parietal Lobo Parietal
nervoso Medula Espinal Medula Espinal retirada da nuca, na altura do atlas e tóraco- lombar
nervoso Meninges Meninge: Dura Mater, Pia Mater e Aracnóide
nervoso Nervo Ciático Nervo ciático (com mielina)
nervoso Plexo Braquial Plexo braquial: Artéria, Nervos e Veias
nervoso Plexo Lombar Plexo lombar: Artéria, Nervos e Veias
nervoso Ponte e Bulbo Ponte e Bulbo
nervoso Substância Branca Substância Branca (retirada próxima da substância negra)
nervoso Substância Cinzenta Substância cinzenta (retirada de perto da substância negra)
nervoso Cérebro Total Composta de: Substância Cinzenta + Substância Branca + Ponte e Bulbo + Diencéfalo + Cerebelo + Lobo Frontal +
Encéfalo Occipital direito + Encéfalo Occipital esquerdo
nervoso Mielina Mielina do nervo ciático
excretor Rim (córtex) Rim (córtex)
excretor Rim (medula) Rim (medula)
excretor Rim total Composta de: Rim (córtex) + Rim (medula)
imunológico Baço Baço + Cápsula
imunológico Linfonodo do Poplíteo Linfonodo (do poplíteo) total
imunológico Linfonodo Mesentérico Linfonodo Mesentérico
imunológico Linfonodo Subescapular Linfonodo Subescapular
reprodutor Próstata Próstata
respiratório Brônquios Brônquio total (com todas as suas camadas)
respiratório Diafragma Diafragma total (com todas as suas camadas)
respiratório Laringe e Cordas Vocais Laringe e Cordas Vocais
respiratório Pulmão Pulmão
respiratório Traqueia Traqueia (parte muscular e cartilagem) = Traqueia Total
sensorial Córnea Córnea
sensorial Cristalino Cristalino
sensorial Olho Total Composta de: Córnea + Cristalino + Nervo Óptico + Retina
sensorial Nervo Óptico Nervo óptico
sensorial Retina Retina
sensorial Língua Língua (3 partes)
circulatório Aurícula direita Aurícula direita
circulatório Aurícula esquerda Aurícula esquerda
circulatório Artéria Válvula Aórtica com pedaço de aorta
circulatório Válvula Mitral Válvula Mitral
circulatório Válvula Tricúspide Válvula Tricúspide
circulatório Ventrículo direito Ventrículo direito
circulatório Ventrículo esquerdo Ventrículo esquerdo
circulatório Coração Total Composta de: Aurícula direita + Aurícula esquerda + Válvula Mitral + Válvula Tricúspide + Ventrículo direito +
Ventrículo esquerdo
digestório Bile Bile
digestório Ceco Ceco (é o apêndice, em humanos) – corte longitudinal
digestório Esôfago Esôfago total
digestório Fígado Fígado com cápsula
digestório Glote e Epiglote Glote e Epiglote
digestório Intestino Grosso Intestino Grosso
digestório Intestino Delgado Jejuno e Íleo (intestino delgado)
digestório Pâncreas Pâncreas Total
digestório Reto Reto
digestório Vesícula Biliar Vesícula biliar com ducto biliar
digestório Parótida Parótida total
esquelético Articulação Coxo Femoral Articulação Coxo Femural: Cartilagem + Periósteo
esquelético Articulação de Joelho Articulação de Joelho: Cartilagem + Periósteo + Cápsula articular
esquelético Articulação de Ombro Articulação de Ombro: Cartilagem + Periósteo + Cápsula articular
esquelético Articulação do Atlas Articulação do Atlas: Cartilagem + Periósteo + Cápsula Articular
esquelético Articulação Têmporo Mandibular Articulação Têmporo Mandibular: Cartilagem + Periósteo
esquelético Articulação de Cotovelo Cartilagem do cotovelo: Cartilagem + Periósteo + Cápsula Articular
esquelético Disco Intervertebral Disco Intervertebral Lombar
esquelético Epífise Óssea Epífise Óssea com Cartilagem de Crescimento
esquelético Fêmur (cabeça) Fêmur: Cabeça + Cartilagem + Periósteo + Cápsula Articular
esquelético Menisco Menisco
esquelético Joelho Total Composta de: Menisco, Tendão Patelar e Articulação de Joelho
esquelético Tecido Ósseo Compacto Osso compacto (Úmero)
esquelético Tecido Ósseo Esponjoso Osso esponjoso (Esterno)
esquelético Periósteo Periósteo (sem cartilagem, tirado do Fêmur)
esquelético Vértebra Lombar Vértebra lombar (Ssa da Vértebra)
muscular Músculo Estriado Músculo Estriado (Glúteo)
muscular Tendão de Aquiles Tendão de Aquiles
muscular Tendão Patelar Tendão Patelar
muscular Tendão Total Composta de: Tendão de Aquiles + Tendão Patelar
esquelético Articulação Total Composta de: Articulação Coxo Femural + Articulação de Joelho + Articulação de Ombro + Articulação do Atlas +
Articulação Têmporo Mandibular + Articulação de Cotovelo + Cabeça do Fêmur

7. Utilização

A dra. Isabel Horta propôs a utilização dos Organoterápicos na última escala/método de preparo de medicamentos proposto por Hahnemann, porém de maneira pouco convencional, misturando diversos organoterápicos em um complexo, como por exemplo uma mistura que ela chamou de Cérebro Total, indicada para pacientes com sintomas neurológicos e cerebrais. Cérebro Total reúne as matrizes de Substância Cinzenta, Substância Branca, Ponte e Bulbo, Diencéfalo, Cerebelo, Lobo Frontal, Encéfalo Occipital Direito e Encéfalo Occipital Esquerdo. A matriz chamada de Articulação total foi preparada a partir da mistura de Articulação coxofemural, Articulação de joelho, Articulação de ombro, Articulação do atlas, Articulação têmporo-mandibular, Articulação de cotovelo e Cabeça do fêmur. E por fim Coração total, é composta de Aurícula direita, Aurícula esquerda, Ventrículo direito, Ventrículo esquerdo, Válvula mitral e Válvula tricúspide.

A Dra. Isabel Horta costuma compor as prescrições conforme as necessidades específicas de cada paciente, procurando em exames de imagens a indicação dos órgãos que estão lesados. Assim raramente utiliza os complexos já prontos. Mas há pacientes que precisam de todos os órgãos de um sistema homólogo (por exemplo, Cérebro total), e se beneficiam, segundo ela, não só do tratamento, como após vários anos, de verdadeira cura dos sintomas.

Uma vez que este preparo não foi incorporado pela Farmacopeia Homeopática Brasileira, e para evitar que a padronização dos medicamentos fosse prejudicada por essas inovações, consideramos de extrema importância a publicação de propostas que possam vir fazer parte de farmacopeias e obras de referência no futuro. Nossa proposta foi publicada na Revista de Homeopatia, volume 77, número 1-2 de 2014, sob o título de Proposital for pharmacotechnical standardization of non-pharmacopeial preparation of homeopathic medicines in fifty-milesimal (LM) with additional dilution, as complex or in globules, por Virgínia Tereza Cegalla, Sylvia Regina Oguchi de Almeida, Paula Azevedo Sollero e por mim. Pode ser visualizada em https://www.aph.org.br/revista/index.php/aph/article/viewFile/280/341.

Para fazer a matriz composta de Cérebro Total, misturamos partes iguais da 3a. trituração de cada uma das matrizes parciais do cérebro. A partir da homogenização feita com as diversas triturações, seguimos em frente dinamizando a mistura como se fosse uma só matriz, chamada de Cérebro Total. Consideramos que este seria a maneira de preparo ideal. Assim foram feitas as matrizes de Articulação Total, Coração Total, e algumas outras. Este procedimento só pode ser feito quando se dispõe das triturações, o que ocorre no laboratório produtor de insumos, mas não nas farmácias. Estas podem receber prescrições com formulações não previstas anteriormente, mas indicados segundo a necessidade individual de cada paciente. Se fosse uma prescrição de um complexo em centesimal, o farmacêuticos poderia reunir as diversas matrizes unitárias, preparando a mistura prescrita, com a técnica prevista em diversas farmacopeias. Porém, como fazer isto com matrizes em LM já que não há descrição farmacopeica ou em compêndios? Para esta dispensação, nossa proposta é a seguinte:

“Colocar 1 microglóbulo de cada matriz solicitada em um pequeno frasco de 5 mL, e adicionar o número de gotas de água purificada correspondente à quantidade de microglóbulos separados. Por exemplo, para preparar um complexo com 5 matrizes em 2 LM, adicionar em frasco 1 microglóbulo de cada matriz na 2LM e 5 gotas de água purificada. Solubilizar os glóbulos agitando levemente o frasco até homogeneizar. Retirar uma gota da mistura e colocar em um frasco de 30 mL contendo 20 mL de álcool a 30%, rotulando com o nome de cada matriz e a potência em LM”.

Como exemplo, vamos considerar a prescrição de um frasco com 20 mL de Artéria, Cérebro Total, Mielina e Medula na 2 LM. Devem ser separadas as 4 diferentes matrizes, sendo que a de Cérebro Total já se constitui em uma matriz composta por diversas partes cerebrais. Em seguida, colocar 1 microglóbulos de cada uma em um frasco de 5 mL e adicionar 4 gotas de água purificada. Solubilizar os pequenos glóbulos e homogeneizar, através de pequenos movimentos. Retirar uma gota da mistura e colocar em um frasco de 30 mL com 20 mL de álcool a 30%. Rotular e dispensar para o paciente. Fazendo desta maneira, consideramos que uma gota da mistura que foi retirada contém partes iguais de todos os microglóbulos diluídos (não importando que sejam 2 ou 20). Assim, torna-se possível para o médico prescrever fórmulas complexas diferenciadas, de acordo com cada paciente, seguindo dentro do possível, o proposto por Hahnemann para o preparo das soluções a serem administradas aos pacientes e não nos afastando muito do raciocínio da técnica disponível na nossa Farmacopeia.

8. Conclusão

Esta é a história do preparo dos Organoterápicos HN padronizados. Temos uma satisfação imensa de contribuir para o tratamento de pessoas que possam ser ajudadas por estes medicamentos. Infelizmente o paciente que precisava do Pulmão não se beneficiou, porém nos incentivou, assim como os inúmeros pacientes da dra. Isabel Horta, sobre os quais ela tem nos contado, enviado vídeos e publicado, com melhoras muito interessantes. Sua experiência, que ela relata em livro que está sendo escrito, foi imprescindível para que fizéssemos todo este trabalho de obtenção de novas matrizes, com qualidade muito superior às que tínhamos anteriormente. Agora podemos responder às perguntas sobre que animal foi usado, quem fez, quando, onde. Há toda a rastreabilidade exigida em nossos dias.

No último Congresso Brasileiro da Associação Médica Veterinária Homeopática Brasileira, ocorrido na cidade de São Paulo, 20 a 23 de outubro de 2015, apresentamos um trabalho com o título de “A produção de organoterápicos dinamizados a partir de carneiro e sua aplicação na clínica veterinária. The production of dynamized organotherapics from sheep and its aplication in veterinary clinic”, de autoria de Roberto Mangieri Júnior; Paula Azevedo Sollero; Sylvia Regina Oguchi; Virgínia Teresa Cegalla e Amarilys de Toledo Cesar. Um dos objetivos foi apresentar casos clínicos e protocolos para tratamento de animais. O tratamento de animais com os OT s ocorreu por grupo de sintomas. Para animais com displasia da articulação coxo femural, e artrite ou artrose da mesma articulação, o protocolo indica o uso de Articulação coxo femural 12CH por 10 dias seguidos, 1 vez ao dia. Após este período, a administração de 5 a 6 gotas por 2 a 3 vezes por semana. Com a observação da evolução dos sintomas, pequenas alterações nesta posologia podem ocorrer. Para cães e gatos com comprometimento crônico do fígado, e também para casos de envenenamento, o tratamento com Fígado 12CH tem apresentado resultados positivos. Em casos agudos, o medicamento é administrado em doses repetidas a cada 15 minutos, espaçando as doses com a melhora do caso. É recomendada a prescrição de um medicamento drenador como auxiliar, porém após o início do uso do Fígado 12CH, os resultados tem sido mais positivos do que antes. Para casos crônicos de lesão hepática, o OT Fígado deve ser prescrito junto com o medicamento constitucional, 1 vez ao dia, com melhora mais rápida do que anteriormente. Ehrlichiose em cães, na fase de recuperação e após o uso do hemoparasiticida, responde bem com a utilização de OT Timo e Osso Poroso em 12CH, retirado da medula óssea da costela e da bacia do carneiro, administrado 1 vez ao dia. Em casos de colapso de traqueia, OT Traqueia 12CH, feito a partir da parte cartilaginosa e a parte muscular do órgão, deve ser administrado uma vez ao dia, com posterior diminuição da dose até deixar o animal sem sintomas. O tratamento de casos clínicos, agrupados em protocolos para patologias, indicaram resultados satisfatórios. Foram recomendados que mais estudos fossem realizados, para que estes resultados clínicos, que contribuiram para a melhoria da saúde e da qualidade de vida de animais fossem comprovados.

Muitos clínicos, homeopatas ou não, não se interessam pelo uso dos Organoterápicos. Porém, para aqueles que resolvem utilizá-los, nós agora temos a mesma sensação de dever cumprido: podemos oferecer, além das LM Padronizadas, também os Organoterápicos Padronizados.

Ficamos extremamente felizes quando escutamos sobre sucesso clínico de pessoas e de animais, pois contribuímos para uma alternativa clínica interessante, que tem sido usada também na área veterinária. Por isto agradecemos também às duas médicas homeopatas que nos exigiram para que estes organoterápicos fossem feitos, assim como ao veterinário Roberto Mangieri Júnior (e aí Roberto, vamos continuar o trabalho com novas coletas?). E à equipe de trabalho com a qual posso contar sempre: Paula Azevedo Sollero, Virgínia Tereza Cegalla, Sylvia Regina Oguchi Almeida e as colegas das outras unidades, que também vieram participar!

Um último e importantíssimo agradecimento Isabel, pelo privilégio do convite para descrição do nosso trabalho, especialmente o referente aos Organoterápicos.

E, como disse minha amiga e grande parceira no ensino e divulgação da Homeopatia, a odontóloga homeopata Ana Elisa Padula, “que o carneiro não tenha sido imolado em vão”.

Amém!