Sobre a Interação Médico-Farmacêutico

É interessante observar que mesmo em condicões tão diferentes para a prática da homeopatia como a encontrada em países como França, Brasil, México, Estados Unidos, Índia ou Alemanha, se possa discutir um tema como este.

Para falarmos do que pode ser a contribuição que médicos e farmacêuticos trabalhando juntos podem dar para o desenvolvimento da homeopatia em todos os países onde ela existe como opção terapêutica, oficializada ou não, talvez devamos falar sobre o que temos de resgatar para a homeopatia que é praticada hoje nestes diversos países.

Com certeza, a experiência de um americano foi adquirida ao enfrentar as dificuldades encontradas para aplicar aquilo que aprendeu, tendo em vista o que os laboratórios farmacêuticos colocavam disponível como arsenal terapêutico. Eu, como brasileira, quase nada conheço de suas dificuldades ou necessidades. Entretanto, dentro de meu próprio país, encontramos situações tão diferentes como podem ser as encontradas entre França e Rússia talvez.

Por outro lado, como farmacêutica homeopata, gostaria muito que as informações que Hahnemann nos legou fossem tão claras e definidas como foi colocado. Gostaria mesmo muito, que as farmacopéias não fossem tão divergentes em assuntos às vezes tão básicos, como por exemplo, como deve ser dinamizado o medicamento na escala centesimal (sem falar na cinquenta milesimal). Entre meus pares, por vezes, ficamos estarrecidos quando, depois de discutirmos longo tempo sobre o movimento que deve ser aplicado aos vidros que estão sendo dinamizados, qual a amplitude, contra que anteparo etc., em seguida vermos filmes ou fotos de laboratórios que são referência para muitos, dinamizando medicamentos apenas submetendo o líquido a uma intensa vibração.

Poderia falar também que, sempre que tenho a oportunidade, procuro me inteirar sobre o que encontro desenvolvido em outros países que resolvam problemas que proventura esteja enfrentando. Assim é a pesquisa para prepararmos medicamentos por Korsakov, para realizarmos potências como 20.000 ou 100.000. Se aplico tempo e recursos para adquirir um equipamento destes, é porque com certeza existem médicos prescrevendo, e provavelmente outros ensinando a prescrever medicamentos que exijam adquirir tal equipamento. Ao farmacêutico cabe encontrar a solução técnica para aquela exigência. Se as indicações são discutíveis ou não, não me compete opinar. Entretanto, se me recusar a participar da busca por uma alternativa terapêutica estarei contrariando juramento feito quando decidi abraçar esta profissão.

Falar sobre colaboração médico-farmacêutico entretanto, não abrange só a união de esforços para se conseguir romper sempre novas barreiras que nos são colocadas a todo momento, seja pela mutação de velhas afecções, seja pelo aumento da fome ou da injustiça no mundo.

Falar sobre colaboração médico-farmacêutica significa também falar sobre conduta ética, sem dúvida alguma. Seja do farmacêutico, seja do médico. Não existem apenas proprietários de laboratórios empenhados em lucros fáceis. Sempre haverá aquele que tenta se aproveitar de condições específicas para auferir lucro, sem se importar a quem faça mal. Mesmo assim, não consigo imaginar a Liga com o papel de polícia de empresas ou indivíduos.

A segurança de um médico em relação a um medicamento prescrito deve se basear em critérios mais concretos do que afirmar a desconfiança em medicamentos acima de 200CH pela exigência de frascos distintos. É importante conhecer o trabalho dos laboratórios – e farmácias homeopáticas – acompanhando e discutindo junto aos profissionais farmacêuticos, cada passo importante no preparo dos medicamentos homeopáticos. Ou então vamos considerar o laboratório apenas em sua possibilidade de financiamento de viagens ou congressos; nunca pelo que estas empresas – e estes profissionais – possam agregar de conhecimento e técnica ao trabalho que a maioria dos médicos nem se interessa em discutir. Considerar que o médico recém formado, assim como o adolescente, é uma presa fácil às táticas odiosas dos laboratórios, que só vêem o lucro em suas atividades, apenas está de acordo com aqueles que só vêm o farmacêutico como fonte de financiamento de viagens ou brindes.

Discutir se o laboratório deve fornecer o medicamento em água ou em álcool, como forma de evitar que o médico possa seguir dinamizando as próximas potências, tem o mesmo alcance que discutir se qualquer um pode tomar um compêndio homeopático e sair precrevendo medicamentos.

A discussão parece-me mais que oportuna. Não sob a ótica levantada, mas justamente pelo oposto. Já é tempo de trazermos mais farmacêuticos para nosso meio, para participar das atividades da Liga. Já é tempo de mais países formarem melhores farmacêuticos homeopatas, que possam trazer sua contribuição para uma melhor homeopatia, com soluções para as situações encontradas nos diversos países, com recursos técnicos mais ou menos avançados.

Porém, com certeza, se tivermos bons farmacêuticos homeopatas envolvidos na preparação de medicamentos, melhores serão as possibilidades da clínica médica.

Espero que nossas divergências não se transformem em diferenças, porém em somatórias.