UMA FARMACÊUTICA NA SUIÇA

Quando nossa filha ia fazer 15 anos perguntamos a ela se queria uma festa ou uma viagem, e ela escolheu uma viagem para conhecer os jardins de Monet, na França. Começamos os planos pois eu tinha um congresso de Homeopatia da LMHI em Berlim e ela iria comigo. Depois faríamos uma viagem, nós duas! Mas muita coisa difícil aconteceu e tivemos que abandonar nossos planos.

No final de 2011 pensei que era a hora, pois no futuro ela já não iria querer mais viajar com a mãe. Os jardins estavam fechados, mas havia a oportunidade de conhecera neve e assim fomos parar nos Alpes. O stress da vida de São Paulo, a idade, um excesso de peso, me fizeram desenvolver hipertensão, que não tem sido totalmente controlada pelo tratamento homeopático, mas é claro que não gosto de tomar o medicamento alopático prescrito pelo médico alopata. Eu não queria estragar o passeio, então levei o medicamento, já pensando em me livrar dele durante os dias de ferias. E, acabei deixando ele em algum lugar.

Nas montanhas, e com o frio de quase inverno, fui me sentindo mal. Fomos passar o dia em Martigny, na Suíça, e resolvi ver se poderia medir a pressão em uma farmácia. Claro, foi a resposta da balconista, que foi chamar a farmacêutica, também porque meu francês é fraquinho, parecido com o inglês da balconista. Entramos em uma sala, ela fez a medida e já fui contando que também era farmacêutica, que não tomava meu anti-hipertensivo há 3 dias. Sim, a pressão estava alta e eu precisava de medicamento. Contei o nome e a dosagem, porém não tinha prescrição. Sim, ela concordava com a prescrição médica e podia me vender o medicamento. Discutimos como eu deveria tomar, e ela me convidou a voltar mais tarde, para tornar a medir a pressão. Me ofereceram água para tomar o medicamento.

Saí com minha filha, passeamos pela cidade, andamos bastante, estava muito frio e continuei me sentindo mal. Na volta, no caminho para a estação de trem, passamos novamente em frente à farmácia e resolvi aceitar o convite para nova medição. A mesma farmacêutica me atendeu, lembrou-se de mim e perguntou de onde eu era. Entreguei um cartão a ela e perguntei se faziam manipulações ali. Ela ofereceu mostrar-me o laboratório: uma sala ao lado da que estávamos, onde entramos sem avental (sim,ela estava de branco), gorro ou pro pé. Ali ela fazia manipulações alopáticas, homeopáticas, com fitoterápicos ou com óleos essenciais, para uso interno ou externo, líquidos, cápsulas ou semi-sólidos. Tudo na mesma sala. Mostrou-me a Ordem de Manipulação, com os dados sobre os supositórios que havia feito há pouco. Rotulavam com o nome da farmácia, e tinham exposto na loja diversos produtos como por exemplo, “Gotas com Óleos Essenciais para Gripe”, sem a descrição da formulação.

Quando perguntei se podia fazer aquilo, disse que tinha tudo registrado e que se tivesse algum problema, ela seria responsável por informar sobre o produto. Contei a ela que no Brasil não podemos vender um medicamento como Losartana, nem fazer uma manipulação, sem a prescrição médica. Podemos medir a pressão de um paciente, porém em um caso como o meu, não tínhamos muito o que fazer para ajudar o paciente. Eu não poderia vender o anti-hipertensivo sem uma prescrição. Aliás, deveria encaminhar o hiper-tenso estrangeiro, de noite, para um serviço de saúde ao qual ele tivesse direito (qual seria?); e, ainda um serviço que oferecesse atendimento naquela noite chuvosa e gelada. De preferência sem que o turista perdesse o último trem!

Que bom que eu estava na Suíça e não no Brasil, onde apesar de ser uma profissional engajada, trabalhar voluntariamente em Comissão do CRF e da ABFH, não sou segura de meus direitos de cidadã (posso exigir comprar um medicamento de uso contínuo que estou necessitando, sem prescrição médica, assessorada por uma farmacêutica?); ou de meus direito de farmacêutica (posso acreditar em um paciente, verificando suas necessidades? Posso utilizar meus conhecimentos para ajudar uma pessoa dentro de minha competência profissional?).

Parece ser mais simples ser farmacêutico na Suíça. Acreditariam em mim, meu diploma valeria mais e eu conheceria meus direitos. Ana Cecília, venha ao Brasil só para passear, mas continue sendo farmacêutica na Suíça. É bem mais fácil!